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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Era uma vez

Era uma vez.... assim começavam todas as historias de principes e princesas e todas as fábulas que li na minha infância...
E assim começa esta história.
Era uma vez uma menina que nasceu no interior de uma pequena cidade de interior de um estado qualquer do Brasil. Era uma noite muito fria e chovia demais quando a mulher avisou ao marido que era a hora, e ele saiu em meio a um grande temporal, pela noite escura e muito fria em busca da parteira. Voltou com a velha senhora, acendeu todas as velas e lampiões para iluminar a pequena casa, e aqueceu a água para o primeiro banho do seu bebê que chegava...Tanto ele como sua mulher esperavam esse
bebê com grande ansiedade, eis que pouco mais de um ano antes tinham esperado pelo primeiro filho que após um parto dificilimo haviam perdido, tendo a mulher sobrevivido por verdadeiro milagre.
Como um perfeito milagre este bebê nasceu chorando forte e aparentando ser bem saudável, em meio a madrugada chuvosa...
Na manhã seguinte o feliz papai galopa até a casa de seus pais e convida suas duas irmãs e seu irmão mais jovem, eram eles cinco irmãos e duas irmãs, para batizarem a sua menina, pois diante do temor de uma nova perda, ele em meio ao trabalho de parto da mulher prometera em orações que se tudo corresse bem com o parto e o bebê nascesse saudável seria batizado no mesmo dia por suas irmãs e por um de seus irmãos.
Naquela época, era costume em lugares distantes, as famílias fazerem uma cerimônia de batismo em casa, eis que o pároco só aparecia naqueles confins muito raramente, a menina foi então batizada por suas tias e pelo tio no mesmo dia em que nasceu.
Um ano se passou, o casal mudou-se para outra cidade pequena, não muito distante, e quando a menina estava para completar
um ano e um mês, vieram de visita à avó materna e deveriam visitar também à família de seu pai.
Durante a viagem a mãe da menina feriu o pé e quando chegaram a casa de sua mãe ela já estava bastante mal, tendo contraído tétano. Exatamente no dia em que completava um ano e um mês de nascida sua mãe faleceu.
Era costume rezarem um terço no sétimo dia do falecimento e nesse dia seu pai decidiu voltar para a casa de sua família e assim desde esse dia a família ganhou mais um membro e a menina passou a ter uma grande família...
Mais tres anos se passaram...e, fato interessante...no dia em que a menina completava quatro anos e quatro meses...seu pai teve um infarto fulminante...e a menina que tinha uma grande família...perdeu toda a sua família verdadeira...
A menina criou muitas fantasias para conseguir aceitar suas perdas...imaginava que a mãe e o pai tinham viajado e que voltariam para buscá-la... e essa espera foi longa...até compreender que a viagem deles não tinha volta...havia sido a última viagem...a morte é a única coisa certa para cada pessoa que nasce...mas é uma coisa em que ninguém quer pensar porque é difícil de aceitar que é o caminho e destino de todos nós...se para um adulto entender isso é difícil...o que será que acontece na cabeça de uma criança?
Vamos caminhar com ela um pouco? Primeiro é preciso ter um nome...que tal Pollyanna...Pollyanna é um nome bonito ...e foi um dos primeiros livros que a menina da nossa historia leu...quando somos crianças ler um livro sem “figurinhas” é muito complicado...as ilustrações, os quadrinhos despertam a atenção e a curiosidade em saber o que significam...pois a nossa menina Pollyanna aprendeu a ler...não pelas figurinhas...mas por curiosidade em decifrar os simbolos que enchiam as grandes folhas de um jornal...assim de decifradora de jornais...para leitora de livros e não de revistas ilustradas...foi só um passo...
Leitora não seria bem a palavra...devoradora seria mais exata...conforme crescia Pollyanna lia mais e mais...quase substituia a realidade pela ficção...lia o que lhe caía nas mãos com uma sede de saber, de conhecer e creio que como um refúgio onde se escondia da realidade com a qual não se sentia feliz...
Pollyanna era pobre? Sim, muito pobre, e cedo entendeu que se
algum dia quisesse ter alguma coisa material teria que ser através do seu próprio trabalho e para conseguir um bom trabalho precisava de conhecimento...e conhecimento como lhe vinha...através dos livros...e assim que entre conhecimento e fantasias adquiriu os dois...algum conhecimento e muitas fantasias...eram os anos 50 e 60, o mundo estava em constante ebulição, ainda sofrendo consequencias de uma grande guerra, ainda cheio de tabus e preconceitos, cinema mostrando “realidade” que Pollyanna tão bem conhecia dos livros...a musica chamando
para novas emoções, tudo dentro de um romantismo exagerado,um golpe militar que deixou o Brasil dentro de uma ditadura por mais de vinte anos, a Jovem Guarda explodindo como reflexo da música inglesa, as meninas em geral enlouquecidas pelos Beatles e por Elvis Presley, e a MPB tentando gritar contra a ditadura e sendo calada...e o início de uma alienação politica que chega aos nossos dias...que até hoje parece haver gente que desconhece historia...mas afinal... desde muito tempo que cultuamos o hábito da alienação...e diante da corrupção atual...educação para que? Quem é alienado não critica...quem não critica...aceita...quem aceita paga...então não é interessante que tenhamos visão critica de nada...está tudo bem ...amanhã tudo será resolvido ...se as coisas mudarem...se os políticos passarem a ser honestos e assim ...como Pôncio Pilatos ...lavamos as mãos...e deixamos o julgamento a quem interessar possa...
Em meio a tudo isso Pollyanna se apaixonou...casou...teve filhos e descobriu que Amor não era bem aquilo que escreviam nos livros que ela leu...que a vida não era bem igual ao que ela sonhava...que os Principes e Princesas dos romances eram todos sapos e gatas-borralheiras...
Mas ...ela continuou sonhando que um dia o seu Principe chegaria...afinal a Pollyanna do primeiro livro que leu via tudo por prismas que transformavam a vida em um arco-íris colorido...e sonhar ainda continuava a ser melhor que a realidade.
Muitos anos se passaram e a menina que nasceu em uma casa pobre em uma noite chuvosa, já podia até comprar um computador...e com o computador veio a Internet...algo que deveria servir para fazer do mundo uma casa Universal, pela Internet não existem distâncias, falar com alguém que vive do outro lado do mundo, em um país distante, é mais rápido que percorrer o caminho que seu pai percorreu no dia do seu nascimento em busca de seus padrinhos...
Mas a Internet traz nos seus segredos as mesmas verdades e as
mesmas mentiras que os livros que Pollyanna devorava traziam...
Um mundo de fantasia onde ela passou a se esconder da sua realidade...e passou a buscar o seu Principe, que quem sabe na Internet ele pudesse existir...
Como seria esse Principe? Seria belo na maneira de falar, seria inteligente e culto, não importa se seria rico ou pobre, se teria um padrão determinado de beleza, mas tinha um padrão inarredável, teria que descobrir o caminho do coração de Pollyanna...

Existem muitas formas de chegar ao coração de alguém...descobrindo suas fraquezas, suas carências, e sua vontade de amar e ser amada...mas tal qual os principes da vida real, os principes e princesas da internet também são sapos e gatas borralheiras, assim como existem também princesas que são dalilas de sansão, borboletas e serpentes, mas a internet parece que é um mundo novo que se criou, onde tudo é possível, nela a realidade se confunde mais com a ficção que em qualquer livro ou filme. E Pollyanna agora tem mais vida dentro e diante de um computador do que jamais teve com seus livros, eis que aqui ela se confunde com leitora e personagem e o seu principe pode ser também leitor e personagem...imitando Pirandello, seus Seis personagens em busca de um Autor ...realmente podem encontrar o seu autor, eis que na Internet o personagem se confunde com seu Autor sendo um e outro ao mesmo tempo. Pollyanna encontrou seu Principe, fez dele seu Autor e foi sua Autora, completou-se o ciclo e em meio as suas fantasias fizeram de sua historia Um Amor Verdadeiro que nunca terminará...Felizes para sempre....não é assim que terminam os contos de fadas..?.Um amor eterno onde Principe e Princesa são felizes para sempre....???

2 comentários:

  1. Resumir a vida e terminar com uma interrogação é infinito, delicado e lindo!
    Brilhante!

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    1. Obrigada pelo seu comentário tão gentil, gostaria de saber escrever melhor e de dizer muitas outras coisas que tenho no coração e no pensamento, mas não é muito fácil transformar em palavras tudo aquilo que gostaríamos de dizer!

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